Placebo


Ela apareceu para mim bem cedo, aos 14 anos um amigo me apresentara em uma festa lá no Centro. Parecia apenas mais um amor da adolescência, mas não, foi uma paixão arrebatadora. Em nenhum momento fui cauteloso, já havia visto alguns lugares e a queria muito para mim. Não titubeei e procurei me envolver ao máximo, fiquei com ela a noite inteira. E queria muito mais que isso.

Estava loucamente apaixonado pela minha menina, fomos nos envolvendo cada vez mais, ela me completava, me dava forças para encarar a vida de frente, com ela minha timidez e meu jeito desengonçado desapareciam, me sentia o melhor homem do mundo quando estava com ela.

Vivíamos num verdadeiro conto de fadas, voando juntos entre as nuvens como pássaros. Ficava extasiado e a felicidade estava vidrada em meus olhos. Não conseguia viver sem a presença da minha amada.

Eu e meu amor vivíamos em um mar de rosas, tudo estava perfeito, eu dizia a todos o quanto eu a amava e que morreria ao lado dela. No entanto, alguns anos depois tudo parecia uma rotina, muitos diziam que ela não servia mais para mim e que ela estava me prejudicando, pois estando com ao seu lado não me preocupava mais com nada. Eu estava me afastando dos meus amigos e da minha família, que sempre me apoiaram em tudo. Porem, as opiniões das pessoas não importavam mais para mim.

Eu sabia, dentro de mim que a amava muito e não poderia viver sem ela. Estava disposto a brigar com qualquer um que tentasse me afastar da minha menina, do meu amor, da minha vida!

Aos 17 anos emancipei-me. Todos em casa m passando responsabilidades as quais, naquele momento, achava eu que não seriam cabíveis a mim. Viver ali já estava insustentável, o pior é que não tinha mais amigos próximos, não entendia qual o mal que todos viam nela. Eu era feliz ao seu lado, isso que importava. Não há mal nenhum nisso, eu sabia dos riscos e pulava de cabeça, “ não fazia mal nenhum, a não ser a mim mesmo”. Decidi viver intensamente e inteiramente em função do meu amor.

Isso não foi uma boa idéia. Estando com ela 24 horas fui perceber como ela era de verdade. Tentava me controlar o tempo inteiro, como se apenas eu fizesse parte dela e não ela de mim também, naquele momento éramos um só: o que me fortalecia agora me deixava cada vez mais confuso. Tinha alucinações freqüentes e bizarras, o conto de fadas que já durara quase 4 anos passou a contrastar com uma terrível historia nebuloza e cinzenta dentro da minha cabeça.

Eu e minha amada não nos entendíamos mais como antes, a sintonia havia acabado. Tentei por varias vezes me afastar dela, mas depois a saudade era enorme, longe dela ficava cada vez mais depressivo e sempre voltava para a minha menina.

A vida é constituída por escolhas, escolhem em quem votam, se jogam futebol ou estudam ou trabalham, escolhem o que desejam comer ou vestir ou ate mesmo escolhem viver no sedentarismo do sofá assistindo TV. Eu fiz minha escolha, melhor que amigos, melhor que família, melhor que sexo. Eu escolhi o meu amor eterno, a minha menina, minha heroína, minha desgraça.

Ate que internei-me numa clinica, precisava de ajuda. Hoje, recém-recuperado, posso falar abertamente do meu antigo vicio que até hoje me da calafrios.

Nilber Viana

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